Era, aliás, sou uma mulher solitária, não gostava de o admitir na altura, mas agora, com o passar dos anos não só o entendo como o aceito com naturalidade. As mulheres que permitem a si próprias começarem de novo uma e outra vez, acabam por ser de alguma forma solitárias, comigo foi assim. Não diria que se tratou propriamente de uma escolha, ou pelo menos de uma escolha racional, aconteceu.
Primeiro foi a mudança de cidade por causa da faculdade, depois foi a mudança com o primeiro trabalho, depois com o fim do primeiro casamento… não sei bem como, ou porquê, mas tornou-se um hábito a fuga em frente no fim de cada ciclo, e em cada ciclo, em cada fase da minha vida, fiz amizades, poucas, tive relacionamentos, partilhei mesas conversas e camas, mas invariavelmente no fim de cada um, larguei-os a todos, com a subtileza e a naturalidade de quem não tem raízes, nem as pretende cultivar.
Houvera contudo, um porto de abrigo, um oásis, no desfile de tentativas e fracassos de que fizera o meu caminho. E esse fora-se em poucos segundos, numa pancada como aquela que acabara de ouvir.
Essa lembrança, acelerava-me, enquanto me precipitava para o Seat vermelho, fumegante, e as botas se debatiam com a lama, tornando cada passo uma eternidade.